domingo, 21 de junho de 2015

Tenho saudades de conversas francas...

Hoje o meu pensamento vai para o meu maior amigo, o maior entre os maiores, com ele conversava sem tabus, de assuntos que a maioria preferia fingir que não existiam, num Portugal que dava os primeiros passos na aceitação das diferenças.
Durante quarenta anos as mentes tinham sido programadas para a uniformização de condutas, e no após revolução aconteceu o que geralmente acontece quando se abre uma porta de rompante, a experimentação do fruto proibido, em todos os sentidos das palavras. Onde a palavra Liberdade passeava de boca em boca, mas, na cabeça de cada um, Liberdade continuava limitada a crendices pré programadas, e se o assunto focava o politicamente correto em sexualidade, elevava sobremaneira o obscurantismo às raias do narcisismo respeitante à conduta sexual de cada um.
Logo as diferenças no que toca a sexualidade eram apelidadas de aberração e em alguns casos de doença, isto em 1989 ano em que morreu o meu maior amigo, com 36 anos, homossexual, assumido para mim sua maior amiga e para a irmã, únicas pessoas a saber do seu grande segredo. Felizmente que as mentes encontraram o seu rumo e as diferenças, apesar de haver muito por fazer, ocuparam o seu espaço por direito numa sociedade arcaica e medrosa.
O meu pensamento hoje vai para o meu maior amigo, 27 anos após a sua morte, do qual não digo o nome porque essa era a sua vontade.
Tenho saudades tuas. L.P.


Antónia Ruivo.