Hoje o meu
pensamento vai para o meu maior amigo, o maior entre os maiores, com ele
conversava sem tabus, de assuntos que a maioria preferia fingir que não existiam,
num Portugal que dava os primeiros passos na aceitação das diferenças.
Durante
quarenta anos as mentes tinham sido programadas para a uniformização de
condutas, e no após revolução aconteceu o que geralmente acontece quando se
abre uma porta de rompante, a experimentação do fruto proibido, em todos os
sentidos das palavras. Onde a palavra Liberdade passeava de boca em boca, mas,
na cabeça de cada um, Liberdade continuava limitada a crendices pré
programadas, e se o assunto focava o politicamente correto em sexualidade, elevava
sobremaneira o obscurantismo às raias do narcisismo respeitante à conduta sexual
de cada um.
Logo as
diferenças no que toca a sexualidade eram apelidadas de aberração e em alguns
casos de doença, isto em 1989 ano em que morreu o meu maior amigo, com 36 anos,
homossexual, assumido para mim sua maior amiga e para a irmã, únicas pessoas a
saber do seu grande segredo. Felizmente que as mentes encontraram o seu rumo e
as diferenças, apesar de haver muito por fazer, ocuparam o seu espaço por
direito numa sociedade arcaica e medrosa.
O meu
pensamento hoje vai para o meu maior amigo, 27 anos após a sua morte, do qual
não digo o nome porque essa era a sua vontade.
Tenho
saudades tuas. L.P.
Antónia
Ruivo.
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