quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Amo-te


Sabes que mais, hoje estou marafada como dizem no Algarve, marafada e com a pulga atrás da orelha.
Está bem, já sei que quando começo com estas conversas vem ardil, e que o tempo se torna curto para as explicações exigidas, mas olha hoje não são necessárias explicações, a minha pulga diz-me que te amo, que gosto dessas rugas e desses cabelos despenteados, que gosto do ar inquisidor - Afinal que queres dizer com isso - sempre o mesmo ar para fingir que não entendes. Há coisas que quanto maior for a explicação maior o nó na moleirinha. Sabias, já dizia a minha avó, claro está-se mesmo a ver a minha avó sabia lá do que falava, e a tua, eram as duas quase da mesma idade, uma tinha a cartola a outra a sebenta. Sim sebenta, essa agora. Diz que não sabe o que é uma sebenta, claro que não é alguém com falta de banho, isso é outra coisa. Sebenta é aquele caderninho preto que servia para tudo, desde as receitas de culinária até ao raspanete a dar no avô. Coitado do avô não tinha culpa se ressonava a noite toda, naquele tempo ainda não havia pensos para o nariz, assim como usam agora os jogadores de futebol, gosto mesmo de os ver com aqueles pensos, um de cada cor.
Que foi agora, ah estás perdido na conversa, pronto eu confesso, estamos quase a fazer anos e eu, eu, amo-te de igual modo, parece que os anos não passam, tirando a pulga atrás da orelha que me vai lembrando estas coisas, está tudo igual.
Agora vou fazer o jantar, hoje para variar escrevi-te durante a tarde.
Mas olha, faz favor de não te esqueceres da prenda, como fizeste no ano passado, estás a ouvir!

domingo, 25 de setembro de 2011

Primeiras Chuvas


Hoje o ar transmite o Outono que se avizinha, o oiro deu lugar ao castanho e o sururu  das folhas mortas, desliza finalmente pelas calçadas saturadas de sol. As pedras reclamam pela frescura dos pingos de chuva, tal como a minha alma reclama por um segundo de atenção.
As saudades que me olhes são imensas, maiores as dos dias que me escutavas, inquiro a tranquilidade da noite o porquê deste silêncio que me pesa, igual ao peso que a calçada sente da chuva. As pedras nuas tem saudades das ervas verdes, que nascem entre si às primeiras chuvas.
Eu tenho saudades da claridade do teu olhar e da calma que o mesmo me transmitia.
As pedras aguardam calmamente pela chuva outonal, é sábia a sua espera, talvez pela certeza de que acontecerá, tal a rectidão dos ciclos vitais à vida. Eu escutando o silêncio do Outono peço a calma das pedras, imploro a sabedoria de permanecer quieta na espera.
A pequenez da minha prudência é gritante, tanto que me perco num charco de queixumes, eu sei, o coração salta pela boca em cada palavra retida, as pancadas são martelos que me testam os reflexos, sei meu amor que jamais os pensares serão iguais, jamais os passos caminharão paralelos, sei que não existem juras por cumprir, não existem contratos para dissolver.
Mas as pedras sabem de antemão que no partilhar sem combinações a entrega tem que ser total, a confiança nunca pode substituir a ganância racional do ter, o possuir tem que ser o filamento nunca o suporte.
O virar de costas tem que ser tranquilo e o reencontro tem que ser mágico, por isso as pedras esperam sem lamentos ou exaltação pelas primeiras chuvas.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Borboletas


Aqui estou eu, sabes uma coisa, neste momento só me apetece dizer e lembrar palavras bonitas. Estou naqueles dias em que segundo o ditado se vê passarinho verde, e o passarinho, melhor os passarinhos são os teus olhos brilhantes, não sei se já te disse que eles dançam quando me olhas, parecem borboletas dançando na Primavera.
Nestes momentos, inquiro o porquê do nublado que por vezes te assombra, e consequentemente eu sou arrastada nesses castelos nublosos, tal papagaio de papel em dia de vento. Era tão fácil bastava que nunca deixasses parar a orquestra que o teu coração toca docemente. Mas meu amor sabes que me perco no pensar, o vento impele a vida, depois da ventania sempre regressa a calma, é cíclico, não abanes a cabeça, eu explico.
Numa vida com acertos as arestas tem que ser limadas, assim como a ternura tem que ser exercitada. Quando se ama as pedras soltam-se e nem damos por elas, os caminhos ficam planos e o amor acontece. Está bem, és mais pragmático terás uma outra explicação, para as borboletas que dançam no teu olhar quando me olhas, mas sabes como sou, nos teus olhos dançam borboletas nos meus dançam letras e sempre que a música pára, escrevem a palavra amor.