Sabes há quanto tempo não te
escrevo, não por falta de vontade porque te reescrevo em cada silaba a que o
papel branco dá vida, quase sempre sob o olhar penetrante do poeta.
Falo de escrever, o descrever
em simples missiva o que me vai na alma, poderia dizer que és a minha outra
costela, mas isso sabes tu muito bem, embora nos momentos intranquilos, aqueles
em que o azeite salta átona renegues a pés juntos assim não ser.
Por vezes o tempo foge do
tempo sem saber, o presente acaba intrincado com o passado e o futuro parece
miragem sob a areia movediça da vontade. Porque será que os humanos são tão
complicados, será essa a razão da nossa supremacia, por vezes perco-me de mim e
de ti olhando a natureza, tudo é tão simples, de uma genuinidade natural e cálida,
experimenta a perder-te num carreiro de formigas, verás nitidamente um todo
caminhando para o todo. Foi assim que sonhei a nossa existência, mas como
humanos somos complicados, cada um a seu modo medimos os passos dados e às
vezes acabamos de passos trocados, corpos afastados, e o pior de tudo com um
enleio sobre os ombros onde milhares de formigas-brancas lutam pela
sobrevivência entre duas mentes casmurras. A minha e a tua.
Neste instante dou por mim a
pensar, que seria da minha existência sem a tua, que seriam as tuas dores sem
as minhas, os sorrisos, os abraços os beijos trocados amiúde entre uma zanga e
outra. O que seria da minha teimosia sem a tua, e da vida, o nosso dia-a-dia
seria certamente medonho e cinzento, tudo porque mesmo de passos trocados
momentaneamente o meu e o teu pensamento é um só.
O meu pensamento finalmente
atingiu a maturidade suficiente para reconhecer a nossa existência paralela,
não é por acaso que tu vais por aí e eu estou aqui conversando contigo, nunca é
por acaso que enfio a cabeça na areia e tu dás-me um enorme safanão e assim sacodes
as formigas-brancas que me caem aos pés.
Não é por acaso que neste
instante preciso vais por aí e conversas com a minha imagem que te reconforta
enquanto te olha com paixão, a paixão existente entre almas similares.
Sabes, acredito que as nossas
almas foram desenhadas nas estrelas, lá em cima perto de Deus os caminhos são
trilhados, por isso meu amor dou por finda esta carta, pedindo às estrelas que
nunca se esqueçam de guiar os nossos passos cansados.
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