Antónia Ruivo...Cartas de amor quem as não escreve
sexta-feira, 19 de abril de 2019
domingo, 21 de junho de 2015
Tenho saudades de conversas francas...
Hoje o meu
pensamento vai para o meu maior amigo, o maior entre os maiores, com ele
conversava sem tabus, de assuntos que a maioria preferia fingir que não existiam,
num Portugal que dava os primeiros passos na aceitação das diferenças.
Durante
quarenta anos as mentes tinham sido programadas para a uniformização de
condutas, e no após revolução aconteceu o que geralmente acontece quando se
abre uma porta de rompante, a experimentação do fruto proibido, em todos os
sentidos das palavras. Onde a palavra Liberdade passeava de boca em boca, mas,
na cabeça de cada um, Liberdade continuava limitada a crendices pré
programadas, e se o assunto focava o politicamente correto em sexualidade, elevava
sobremaneira o obscurantismo às raias do narcisismo respeitante à conduta sexual
de cada um.
Logo as
diferenças no que toca a sexualidade eram apelidadas de aberração e em alguns
casos de doença, isto em 1989 ano em que morreu o meu maior amigo, com 36 anos,
homossexual, assumido para mim sua maior amiga e para a irmã, únicas pessoas a
saber do seu grande segredo. Felizmente que as mentes encontraram o seu rumo e
as diferenças, apesar de haver muito por fazer, ocuparam o seu espaço por
direito numa sociedade arcaica e medrosa.
O meu
pensamento hoje vai para o meu maior amigo, 27 anos após a sua morte, do qual
não digo o nome porque essa era a sua vontade.
Tenho
saudades tuas. L.P.
Antónia
Ruivo.
terça-feira, 5 de maio de 2015
Amanhã é o dia Do Passa Língua Facebookiano…
Há mais ou menos uma semana
que não conversamos, sei que compreendes os meus silêncios, tal como me compreendes
naqueles dias em que o alarido se apossa da minha alma tal paixão assolapada e
em estado viral faço uma barulheira infernal, logo estou desculpada!
Hoje, estou a bem dizer: Pesarosa.
E porquê? Perguntas… Já reparaste
na frivolidade que se apossa das redes sociais sempre que há um dia de qualquer
coisa?
São tantos os dias que os
dedos das duas mãos jamais chegariam se por acaso algum utilizador mais
picuinhas se desse ao trabalho de os contar, tal como se contam os carneirinhos
nas noites mal dormidas. Estás a imaginar a lumiaria que seria, no Facebook por
exemplo… Um dia de, mais outro de, e logo outro de uma meleca qualquer, etc,
etc.
São tantos os dias (de) que já
por várias vezes estive tentada em criar o dia da minha rica pessoa, que te
parece?
E por falar em pessoa, não
uma pessoa qualquer mas aquela outra Pessoa, Pessoa ou outro dos que elevaram
bem alto a língua mãe e que esta noite tal como eu devem estar pesarosos, ou
quem sabe desiludidos com os portugas, marias vão com as outras… Que hoje, logo
hoje em que se comemorou o dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Lusofonia, tirando
a um ou outro utilizador mais atento, à grande massa colectiva o mesmo não
mereceu sequer um piropo!
Não mereceu um piropo mas
podia-lhe ter sido oferecido um beijinho… qual beijinho qual quê, um olhar mais
atrevido pois então… Porque não? Ou mesmo um valente amasso, daqueles em que as
meninas suspiram com um certo pudor e aos meninos dá uma pica do caraças, e
pronto está armado mais um amarfanhado colectivo!
Já imaginaste a cara de caso
do Camões, logo ele, o pai da Língua… Por acaso um pai não merecia dois dias em
sua homenagem, com grande pompa e circunstancia facebookiana, e assim hoje se tivesse homenageado a língua que
ele, coitado, mesmo lá onde judas perdeu as botas, e ainda assim se deu a uma trabalheira
do caraças para deixar por cá, a nossa
rica Língua Portuguesa.
Ainda há pouco quando
trocamos uma opinião sobre o caso ele me segredava que se calhar: Se calhar, o
dia passou em claro e a culpa deve ter sido do tal acordo que se cozinhou na
lusofonia, é que parece que se enganaram na receita e em vez de uma quantidade
mais elevada de gramática portuguesa introduziram no caldeirão uns biscates que
ainda não se sabe muito bem para que servem.
Mas enfim… mais um dia (de)
que passou e eu amanhã sempre vou proclamar o dia da minha pessoa… também tenho
direito, ou será que não?
Estão ali a segredar que a
palavra Facebookiar não existe, e como sou do contra amanhã é o dia Do Passa Língua Facebookiano.
Que te parece?
segunda-feira, 27 de abril de 2015
Uma gargalhada se faz favor...
Hoje apetecia-me falar do
riso, por vezes, até às lágrimas, e de como feito barata tonta me rio sozinha. Tem também
aqueles dias em que rio de mim.
Mas o que mais gostava era de
rir contigo. As nossas gargalhadas preencheriam os espaços em volta, vazios e frios, embora, esta manhã tenha achado que até as árvores parecem rir.
As árvores!… Umas maiores e
outras mais pequenas… Com as quais mantenho largas conversas, mesmo que a boca esteja fechada.
Um dia destes uma delas
perguntou enquanto se espreguiçava ao sol, qual a razão do meu sorriso,
respondi:
- Deve ser do vento ou então do sol, transportam
pela manhã a certeza de como é bom acordar e sorrir todos os dias.
Apetecia me ficar aqui a falar
do riso e de todas as gargalhadas que daremos juntos mas... O sono empurra e a cama já chama.
Por isso mesmo, amanhã na volta do
correio… Uma gargalhada por favor.
domingo, 26 de abril de 2015
Uma por cada vez que me fizeste sorrir...
Amanhã é segunda-feira, o dia do recomeço para alguns,
para outros é só mais um dia igual a todos os dias.
Assim começa a minha carta de hoje. Já reparaste
como o tempo parece voar, ainda ontem foi o Natal e estamos quase a meio do
ano, mais um mês e pronto!
O tempo… Aliado perfeito dos poetas, precisam de tempo
para aprender, para viver, e assim escrever. Todos os versos que cabem numa mão
fechada, a do nosso universo!
Ando tão entretida a desvendar rimas que quase esqueço
o correr do tempo.
Não sei se te acontece, olhar o espelho pela manha e
descobrir que há tanto por fazer e ainda mais por dizer. Ou então aquela ruga
atrevida relembra que o tempo pode escassear…
Por isso hoje, em que me apeteceu falar do tempo. Não
da chuva ou do sol e sim da ampulheta que é roda-viva em que se tornou o nosso
tempo. Confesso que por vezes temo não ter tempo, e aí a falta de tempo será
impropria ao fim do tempo.
E como o tempo das cerejas está para breve, deixo-te
nas notas musicais que me embalam o que resta de um tempo, em que sonhava com
borboletas. Esvoaçavam campo fora. Tem tão pouco tempo de vida, as borboletas!
Talvez por isso a sua graciosidade, tão frágil e ao
mesmo tempo capaz de cortar o tempo de lés a lés, as torna imunes ao tempo.
Imagina… se eu fosse borboleta, não precisava ser
linda e de uma brancura celestial. Podia ser uma traça… Porque não? As traças
ao fim e ao cabo também são borboletas, e também elas vivem o seu tempo sem
tempo. De tal ordem que aquele casaco de que eu mais gostava, tem um buraco!
Faz-me lembrar um buraco no tempo. Acontece muito a
quem viveu depressa demais, tal foi a correria, que no fundo da alma se alojou o
maior dos buracos.
A falta de tempo para amar.
Como amanhã é segunda-feira, olho as rosas na jarra
transparente e apetece-me contar as suas pétalas, uma por cada vez que me
fizeste sorrir nos últimos tempos.
Ah... e se eu fosse uma traça. Isso será uma outra conversa.
Ah... e se eu fosse uma traça. Isso será uma outra conversa.
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Uma boa dose de beleza...
Antes de te escrever estive mais
de cinco minutos a olhar para as Rosas ternamente depositadas na jarra de vidro
transparente, no passado sábado. Como todas as flores, que não dispenso, foram
compradas no mercado ali debaixo.
Três Rosas, uma de um rosa
deslavado, as outras duas de um vermelho estonteante. Ou assim deveria ser, não
fosse uma estar completamente murcha, enquanto as outras duas continuam
viçosas, como se os dias não lhes pesassem nas pétalas.
O mesmo acontece comigo! Mais
ou menos por esta hora: umas vezes estou pronta para mais umas duas horas em
volta da escrita, outras, como hoje, em que morro de sono, igual à minha rosa
murcha, estou mais para lá que para cá, e vai daí penso…
Se a vida fosse sempre igual
seria uma grande chatice. Aposto que estás a achar a conversa esquisita, ou
então, estás curioso!
É que por vezes, fico
deslumbrada com o pôr-do-sol, outras nem sequer o vejo! Pode acontecer defronte
dos meus olhos, que nem reparo. Tem ainda outros dias em que tudo e qualquer
coisa, mexe comigo! Ele pode ser o idoso que passa por mim nos dias em que vou
trabalhar por volta das sete da manhã, e me cumprimenta sempre da mesma
maneira, com um sorriso de orelha a orelha, seja de verão ou de inverno. Ou então
as árvores da mata. Nos dias em que as acho ainda mais verdes do que o habitual,
e ao idoso ainda mais simpático, sei que, quando a noite chegar os poemas
correm sem poiso, mas acabam sempre por desaguar num porto seguro. Já nos
outros, em que não estou nem aí e tudo me parece rotineiro, os poemas são
flechas que pairam no ar, à espreita da melhor hora para me assombrar.
Hoje como tenho sono, não
escrevo poemas, logo questiono.
Será Loucura de quem escreve.
Será que os poetas têm mil olhares e por isso são poetas, ou será de mim que
tenho sono?
Pois… O que é que as rosas
tem a ver com a conversa?
É que tal como as rosas, as
pessoas começam por ser viçosas, e depois tal como a minha rosa murcha e o
idoso que me cumprimenta, apesar de curvados ainda contém uma boa dose de
beleza.
Amanhã já sabes, como
salvação da manhã, quero uma flor vistosa.
domingo, 19 de abril de 2015
Amanhã falarei do nosso passeio
Estive o dia todo indecisa,
sem saber se deveria escrever-te esta noite, ou não.
Mas o bem que me faz
conversar contigo, levou a melhor às indecisões.
Passei a tarde preocupada com
o Fred. Pois é, não sabes quem é o Fred, ou o Frederico quando faz asneira. É um
Yorkshire Terrier com quase treze anos, e que me adoptou há quatro anos atrás,
quando abandonado à sua sorte.
Hoje não quis comer o dia
todo e rosnava por tudo e por nada, já ontem assim foi, coisa que ele faz com frequência,
está a ficar senil. A idade, acumulada com os traumas que sofreu acabaram por
lhe alterar o comportamento. Julgo, conforme tem momentos agitados, é
extremamente dócil, tem sido o companheiro perfeito. Por causa do seu estado,
acabei por ficar em casa, e não fui visitar a mãe, mas ela compreende, entretanto ocupei o tempo a pesquisar possíveis maleitas para
o Fred não querer comer. Por sorte ao serão voltou ao normal e agora dorme
regaladamente no seu sofá.
Penso, que estás a achar a
conversa de hoje um pouco chata, até compreendo, mas, tens que concordar
comigo, que há demasiados animais abandonados por aí. São tudo cravos e rosas
quando são pequeninos, mas eles crescem e dão trabalho, para além da despesa. Há
que pensar bem antes de arranjar um animal, tal como as pessoas não são utensílios
descartáveis, ou não deveriam ser.
Por isso, amanhã prometo que
falarei do nosso passeio pelas esquinas da Primavera.
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