terça-feira, 14 de abril de 2015

Uma saudosa carta...


Hoje, escrevo-te porque estou naqueles dias em que as palavras se atropelam, para no final saírem aos carpidos. Apetecia-me falar sobre o verde na Primavera, mas o resultado é cinzento, igual aos dias de Inverno. Ainda há pouco a ventania entrou pela janela, percorreu as divisões da casa, e voltou a sair. Deixando atrás de si, uma saudade, e como volta e meia sou tolhida pela saudade do amanhã, o que confesso é uma carga de trabalhos. Normalmente, temos saudades do que já passou, eu tenho saudades de ter saudades de águas passadas, porque as saudades do amanhã preenchem o meu imaginário.
 As saudades do amanhã são mais traiçoeiras, nunca sabemos se vão acontecer. Às vezes penso, não posso chamar saudade à nostalgia, embora o bom senso me afirme que vai dar ao mesmo, mas, não é bem assim, para mim não é e pronto.  Caso encerrado, saudade e nostalgia não é a mesma coisa. Já imaginação e devaneio, andam paredes meias.
Por isso a ventania que entrou pela janela teve o condão de me insuflar a imaginação, nem queiras saber… Fiquei numa roda-viva, ele foram cravos e rosas, andorinhas e margaridas, até uma astuta raposa me infernizou a alma.
Passado algum tempo, entrou pela janela o cheiro do montado, aí pensei, desta não escapas, é agora que sai o poema, e saiu!
Dorido, completamente despido e desalinhado, ponderei… Os poemas também podem ser desalinhados, revirei-o dos pés à cabeça, e o coitado implorou que o enterrasse lá no alto, junto de todos os versos inacabados. Fiz-lhe a vontade, não sem antes lhe lapidar a pontas, que guardei no coração, para te mandar amanhã na volta do correio.
Mas como não há duas sem três, entrou pela janela o barulho da água a correr, nem queria acreditar… Então não querem lá ver: Aquele riacho ternurento, veio, e com ele as cegonhas sobrevoaram a minha sala, nas asas, uma rima de amor, nas penas, atracadas as saudades, e no bico, o que restaram dos beijos de ontem. Dizem que foi o dia do beijo, e hoje parece que é o do café. Sempre quero ver como é que amanhã me envias uma xícara de café.
O melhor é acabar com a conversa, ou fico aqui até de manhã. Termino com a saudade do que ainda há-de acontecer…

Com um beijo antes de adormecer!


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